Em José Boiteux, cidade do Vale do Itajaí localizada a cerca de 260 quilômetros de Florianópolis, na capital catarinense, os Xoklengs iniciaram um movimento de reflorestamento do próprio território. Na tentativa de salvar a espécie de árvore em risco de extinção e considerada sagrada para a população, os indígenas passaram a plantar mudas de Araucária.
A população, atualmente de cerca de 2 mil indígenas, sofre pela ausência das árvores no território. A planta é a base da alimentação da tribo e usada na confecção de remédios. Ao saber do risco de extinção, o casal Xokleng, Nduzi Gakran e Isabel Gakran, decidiu fundar o Instituto Zag, que na língua dos indígenas significa Araucária.
"Quando a gente descobriu o risco de extinção, começamos a nos organizar. Nossa árvore é sagrada e não pode desaparecer, ela não pode morrer, porque se a nossa árvore morre é como se a gente morresse junto", diz Isabel.
Assim como as Araucárias ameaçam desaparecer, os Xokleng por pouco não foram exterminados. Era por volta de 1870, quando a etnia passou a ser vista como uma ameaça à ocupação territorial do Estado, explica o atropólogo Jefferson Virgilio.
Grupos chamados de "bugreiros" caçavam os indígenas e, “no intervalo de 6 anos, morreram um quarto da população. Efetivamente beirou à extinção", afirma o pesquisador.
Segundo João de Deus Medeiros, biólogo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), ainda é difícil fazer uma estimativa de quantos anos ainda haverá Araucária no território catarinense. "Ver agora eles tomando iniciativa para tentar corrigir erros nossos é algo inspirador e que deveria, inclusive, servir como exemplo principalmente para as nossas autoridades públicas", chama atenção o biólogo João de Deus.
“Vai depender muito da maneira como nós atuarmos. É difícil a gente fazer uma estimativa pois nós ainda temos uma tendência a uma instabilidade muito grande nas políticas públicas de conservação", afirma.
Iniciativa
Sem muita estrutura, o casal passou a colher pinhas, separar os pinhões, plantar em sacos biodegradáveis e criar mudas, que levam cerca de um ano para estarem prontas para ir à terra. Todo o processo é acompanhado pelas crianças da tribo para que os ensinamentos sejam transmitidos.
A ideia é que o povo Xokleng possa ter de volta a fonte de alimentos que durante séculos manteve viva a população indígena na região. A expectativa dos idealizadores é de que, em média de 30 a 40 anos, a árvore deixe de correr o risco de desaparecer.
"Assim como os Xokleng resistiram, as araucárias também resistirão. Enquanto existir Araucária, a gente sempre vai estar aqui", diz Ndilli Kopakã, líder indígena.
Um dos símbolos do esforço para salvar as Araucárias, segundo os indígenas, tem pouco mais de um mês de vida. Zágtxo Gakran, filha do casal fundador do instituto, nasceu no meio do plantio da árvore.
Fonte(s): G1 Santa Catarina
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