Entre jovens de 15 e 29 anos no Brasil, o suicídio é a quarta causa de morte. A informação, de 2015 e presente no boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, se soma a outras. De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde, por exemplo, 800 mil pessoas cometeram suicídio em 2012, mais de 100 mil delas eram menores de 19 anos. Ao criarem um alerta sobre o aumento do número de casos entre crianças e jovens, os números também mostram a necessidade de uma mudança de postura para tratar do tema, historicamente pouco falado. Em função disso, o “Seminário de Prevenção e Enfrentamento ao Suicídio na Infância e na Adolescência: Precisamos Falar, Precisamos Agir” reuniu especialistas sobre o assunto ao longo do dia desta segunda-feira (08), no auditório do Ministério Público, em Porto Alegre.
O professor de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), Christian Kieling, que participou do primeiro painel do evento, realizou um paralelo com a série Thirteen Reasons Why (Os Treze Porquês). Diferente da série da Netflix, que mostra os 13 motivos que teriam levado uma adolescente a tirar a própria vida, o médico listou treze razões para falar sobre o suicídio. Falou, por exemplo, que dos 14 mil casos ocorridos no ano de 2017 no Brasil, 2,3 mil foram antes dos 24 anos.
Entre os motivos listados por Kieling para falar sobre suicídio está que essa causa de morte supera doenças graves como Aids e leucemia. Fundador e coordenador do Programa de Depressão na Infância e na Adolescência (ProDIA) do Hospital de Clínicas, ele também citou que o fenômeno vai além da morte em si, já que a cada casos há de dez a 40 tentativas de suicídio. Segundo o psiquiatra, a importância de se falar sobre suicídio precisa ser difundida inclusive entre os profissionais da saúde. "É importante desconstruir o mito de que perguntar aumenta a probabilidade de alguém se matar. Tanto dados científicos quanto a nossa experiência clínica mostram que quem está em sofrimento, pensando em suicídio, quando perguntado, sente alívio e sofre menos. Não vamos colocar ideia na cabeça de ninguém."
O médico também citou frases que ajudam a perder o receio de tratar do suicídio e da depressão com crianças e adolescentes. De acordo com ele, há conversas que podem piorar o problema e outras que podem ajudar. Dizer para a pessoa que o problema “é coisa da sua cabeça”, por exemplo, machuca, mas afirmar que o que causa o sofrimento é uma doença real, se mostrar preocupado e oferecer ajuda pode auxiliar. A chefe de reportagem do Correio do Povo, Mauren Xavier, que estuda o tema, mediou o primeiro painel do evento e afirmou que o fenômeno do suicídio precisa ser visto e entendido na sua complexidade. "É muito importante esse momento e esse debate porque mostra a quebra do silêncio e do tabu sobre o assunto, mas também uma mudança de postura da nossa sociedade, que passa a olhar e, principalmente, respeitar o sofrimento."
“A proposta vem a ser uma quebra de um tabu, ainda falar sobre o suicídio é melindroso, as pessoas têm um certo receio e, embora tenhamos todo esse cuidado em falar para não propagar, os números estão aumentando e, mais, aumentando entre crianças e adolescentes”, explicou a deputada federal Liziane Bayer (PSB/RS), secretária-geral da Frente Parlamentar de Combate ao Suicídio e Automutilação da Câmara Federal. De acordo com ela, a própria adesão ao evento, que teve as inscrições encerradas menos de uma semana e que lotou o auditório do MP, representa a necessidade da sociedade debater este assunto, que não tem um protocolo de ação preventiva estabelecido e difundido no Brasil.
O foco no público infantojuvenil nessa programação se deu em função do aumento considerável de casos de suicídio nessas faixas etárias, mas outros eventos devem ser realizados com enfoques, por exemplo, nos idosos, que também representam uma quantidade significativa. A presidente da Frente Parlamentar de Combate ao Suicídio na Assembleia Legislativa, deputada Franciane Bayer (PSB), disse o ganhará espaço constante durante seu mandato. “Precisamos pensar em políticas públicas que alcancem as vítimas e também as famílias.”
Fonte(s): CORREIO DO POVO
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