As más condições das rodovias federais causaram ao menos 205 acidentes entre 2017 e o último mês de maio em Santa Catarina. As ocorrências deixaram 217 feridos e mataram 10 pessoas, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
As três últimas mortes ocorreram e junho deste ano, em dois acidentes ocorridos em menos de sete dias. Duas delas ocorreram no dia 21, quando um caminhão de combustível explodiu ao desviar de um buraco e bater de frente contra outra carreta na BR-282 em Ponte Serrada, no Oeste. As vítimas eram motoristas.
A última, foi de um motociclista, no dia 27. O jovem, de 20 anos, teria caído ao passar sobre um buraco e foi atropelado por um caminhão logo após a queda na BR-158 em Cunha Porã, também no Oeste.
Os acidentes foram associados a falta de estrutura das rodovias por motoristas e usuários. Segundo a PRF, no entanto, "não é possível afirmar que esta tenha sido com certeza a causa [do acidente]", apesar das condições ruins do asfalto.
Rodovias em piores condições
A BR-470 é a que tem os piores números dos últimos cinco anos, com 61 acidentes causados por defeitos na rodovia, como desníveis, afundamentos e buracos.
A rodovia é fundamental para escoar cargas do interior aos portos do Estado. São 359 quilômetros, entre Campos Novos, no Meio-Oeste, a Navegantes, no Litoral Norte, de acordo com a a Confederação Nacional do Transporte (CNT). As condições gerais do trecho foram classificadas pela CNT como regular em estudo divulgado em 2021.
A rodovia passa por obras de duplicação na altura do Vale do Itajaí, uma demanda que começou a ser discutida ainda na década de 1990 e que não se cumpriu até então.
A manutenção dos trechos é de responsabilidade do governo federal e, no caso das vias concessionadas, das empresas que firmaram contratos para isso.
Trechos públicos
Sob gestão pública, a manutenção e eventuais melhorias da BR-470 devem ser executadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), órgão federal vinculado ao Ministério da Infraestrutura.
A divisão catarinense do DNIT disse que não se manifesta sobre acidentes ao ser questionada sobre os números e que tem feito para diminuí-los.
"O DNIT mantém ações de manutenção e conservação em todas as rodovias federais de Santa Catarina sob sua gestão", disse o órgão por meio de assessoria.
Ainda, entre os trechos públicos, a BR-282 também é destaque negativo, com 39 acidentes causados por más condições. A rodovia é a maior no Estado, com 673 km, e tem o maior número de vítimas em acidentes fatais, com seis mortes.
A lista sob responsabilidade do DNIT também tem a BR-163. O trecho é considerado pela CNT o pior entre os pavimentados do país, com 18 acidentes. Na sequência aparecem a BR-280, com 16, a BR-158, com cinco, e a BR-153, com quatro casos.
Rodovias sob concessão
O problema não se resume aos trechos públicos. A BR-101, com 472 km concedidos à iniciativa privada, foi a segunda rodovia com maior número de acidentes no período. De Garuva, no Norte catarinense, a Passo de Torres, no Sul, houve 59 registros.
Nos 220 km mais a sul da rodovia, a concessão foi iniciada em agosto de 2020, com a CCR ViaCosteira. O restante do trajeto da via que corta o litoral catarinense está sob responsabilidade da Autopista Litoral Sul, da Arteris.
Os números da PRF, no entanto, não fazem distinção sobre onde os acidentes da BR-101 ocorreram.
A CCR ViaCosteira informou que investiu mais de R$ 300 milhões em melhorias, o que inclui a recuperação e a substituição total do asfalto em alguns trechos, além de manutenção da sinalização e implementação de dispositivos de segurança.
A empresa disse, também, que promove ações de segurança viária e opera em quatro bases de atendimento ao usuário, com 19 equipamentos entre ambulâncias, guinchos e viaturas de inspeção, que circulam o trecho concessionado 24 horas por dia.
A Arteris informou que, desde 2008, aproximadamente R$ 6 bilhões em melhorias foram investidos nas rodovias administradas nas rotas de ligação entre Curitiba e Florianópolis e Curitiba a Lages, incluindo pavimento.
Também informou que concessionárias mantêm equipes 24h para manutenção e conservação das pistas.
En nota, disse que mantém um Grupo Interno (Gerar) especificamente para estudar e propor soluções para redução de acidentes. "Entre 2010 e 2021, houve redução de 8,6% dos acidentes e 21,5% das fatalidades" no trecho de Florianópolis. No trecho de Lages, a redução foi de 34,5% para acidentes e 50% para fatalidades.
Ela também é controladora da Autopista Planalto Sul, responsável pela BR-116. A rodovia teve três acidentes causados por buracos no período analisado, menor número entre os trechos federais no Estado.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que concede e fiscaliza contratos de exploração da vias federais, também foi questionada, mas não se manifestou.
Comparação com outras causas
A PRF diz que os acidentes associados a defeitos nas vias representam um percentual extremamente baixo se comparados às ocorrências em geral. De janeiro a maio deste ano houve 3.190 acidentes. Destes, 14 relacionados a problemas na pista, o que representa um total de 0,43%.
"A esmagadora maioria dos acidentes é causado por falha humana, ou seja, o comportamento imprudente de motoristas e pedestres que se manifesta através de ultrapassagens indevidas, excesso de velocidade, consumo de álcool, desatenção e várias outras atitudes", escreveu, por meio de sua assessoria.
Fonte(s): G1 Santa Catarina
Comentários