O percentual de crianças obesas entre cinco a 10 anos é de 12,2% em Santa Catarina. O número, que é de 2021, aumentou em 4,5% em uma década. Segundo especialistas, o índice de crianças que saíram do seu estado nutricional adequado, que diminuiu em 8,7% no período, pode refletir a insegurança aliementar.
Os marcadores — de 2008 a 2022 — detalham a situação nutricional de usuários do SUS, em sua maioria de baixa renda, e são fruto de um levantamento da agência de dados Fiquem Sabendo em parceria com a revista Piauí, disponibilizada aos veículos de imprensa. As equipes utilizaram os indicadores do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), plataforma nutrida pelo Ministério de Saúde.
O Diário Catarinense analisou os percentuais do Indíce de Massa Corporal (IMC), de crianças de cinco a 10 anos de idade.
Para a nutricionista Amanda Guedes, especilista em nutrição materno-infantil, o índice é útil para avaliar populações, mas não é o ideal para avaliar a saúde do indivíduo. Isso significa que mesmo mais magra ou mais gorda, uma pessoa pode estar saudável, com os índices de nutrição adequados.
— O IMC, quando eu estou avaliando um indivíduo, ele não pode ser usado como método único de avaliação. Eu preciso avaliar o contexto da criança, a alimentação, a rotina, a família, o desenvolvimento, o histórico principalemente. A altura para idade, o peso para idade, e não só o IMC. Porém quando a gente tá falando da avaliação de populações. como é o caso dessa pesquisa, o IMC é amplamente utilizado porque ele é fácil de ser comparado — explica.
Índices saltaram durante a pandemia e podem indicar insegurança alimentar
Conforme o Sisvan, a parcela de crianças com eutrofia — ou seja, o estado nutricional adequado — passou de 66,5% em 2011, para 57,8% em 2021. Já os índices de magreza e obesidade aumentaram em 10 anos em 1,68% e 4,58%, respectivamente.
Tanto a magreza e a obesidade, para Amanda, podem refletir a insegurança alimentar das famílias. A tese é reforçada pelo salto dos índices entre 2019 e 2020 — quando a pandemia começou —, 5% das crianças saíram dos índices de eutrofia e 1,9% ficaram obesas.
Segundo a nutricionista, durante o período, a vulnerabilidade social aumentou e influenciou na perda e ganho de peso das crianças, mas, principalmente, diminuiu o ganho nutricional das alimentações.
— Preparar esses alimentos, demanda tempo. Não é mais caro, mas muitas vezes essas famílias precisam trabalhar em outros locais, em mais de um emprego, e falta tempo para a gente preparar essas refeições e, consequentemente, comer melhor. — conclui.
Impacto na rotina deixou crianças mais ansiosas
A nutricionista Ana Rubik, também especialista em nutrição materno-infantil, fez uma análise de como a pandemia poderia impactar a nutrição das crianças. No texto, ela explica que, além da vulnerabilidade social, outros fatores influenciaram a perda de nutrientes.
Ela cita sequelas psicológicas deixadas pela Covid em crianças, que durante o período, assim como adultos, precisaram ficar confinadas: "Fica evidente que cresce cada vez mais o hábito alimentar de comer em busca do prazer e/ ou para afastar a ansiedade, e não somente para se nutrir e sanar a fome. Emoções como raiva, tristeza, medo, angústia e tédio provocam uma reação natural em muitos indivíduos de buscar felicidade através de alimentos que possuem fontes precursoras de serotonina, como o chocolate. Além disso, o hábito de 'mastigar algo' para aliviar a tensão tem se tornado popular, principalmente entre as crianças."
As duas nutricionistas contribuíram com dicas para reverter o cenário de piora na nutrição infantil em Santa Catarina. Amanda, que trabalha com casos de seletividade alimentar, explica que a melhor alimentação vai além do preparo correto:
— Eu percebo que falta muita atenção e paciência com o processo do aprender. E cada vez mais, as nossas famílias tem menos tempo para nossas crianças, e isso influencia diretamente na qualidade nutricional.
Já Ana faz um alerta aos pais.
— A educação nutricional na infância é base para uma melhor nutrição na vida adulta. E está claro o quanto a alimentação dos pais interfere na qualidade alimentar da criança. As crianças aprendem pelo exemplo, não somente nos primeiros dois anos de vida [onde se concentra maior atenção na introdução alimentar], mas por todos os anos seguintes, onde a alimentação [saudável ou não] se consolida — pontua.
A nutricionista elaborou dicas para garantir uma alimentação saudável dos pequenos durante o confinamento, que também vale para agora, com as crianças de volta para a escola. Ela ressalta que algumas regras não são únicas para toda família, isso porque, segundo Ana, é preciso considerar "a família que pode cozinhar com os filhos e tem aquela que mata um leão por dia pra conseguir farinha e arroz".
Dicas de como manter a alimentação das crianças saudável
- Mantenha as crianças hidratadas: deve-se entender por hidratação a ingestão de água. Refrigerantes e bebidas industrializadas devem ser evitadas. Sucos naturais são permitidos desde que na dose certa e sem adição de açúcar: o recomendado é que crianças menores de 6 anos não devem tomar mais que meio copo de suco por dia (e este deve ser 100% de fruta natural). Após 7 anos, o ideal é a ingestão de no máximo 355ml de suco ao dia.
- Recomendação para crianças em fase de amamentação: o recomendado é que a amamentação não seja interrompida de forma alguma se a mãe estiver plenamente saudável. Mesmo as crianças em fase de Introdução Alimentar (IA) devem receber aleitamento materno, uma vez que assim recebem anticorpos e nutrientes essenciais para a imunidade que só existem no leite da mãe.
- Crie um estoque de lanches saudáveis: crianças gastam muita energia e por isso sentem fome com muita frequência. A recomendação dos especialistas é que para alimentar as crianças entre as refeições sejam ofertado lanches saudáveis como: castanhas e sementes, queijos, iogurtes, frutas picadas frescas, ovos cozidos, sanduíches, barras de cereais feitas em casa ou outras opções. Deve-se saber que meia xícara de frutas secas equivale a uma xícara de fruta comum sendo que as frescas são sempre a melhor opção. Receitas caseiras de snacks, lanches rápidos, também são uma ótima opção.
- Evite e selecione alimentos processados: alimentos industrializados e ultra processados devem ser evitados a todo custo. Porém, quando não houver alternativa deve-se optar pelos alimentos enlatados, secos ou desidratados menos nocivos para a saúde das crianças como feijão, grão de bico, sardinha, atum, tomates, frutas secas, lentilhas, grãos e cereais (aveia).
- Alimentos que geram bem estar: crianças também podem ficar tensas e ansiosas. Logo, consumir alimentos saudáveis que promovam a síntese de serotonina e melatonina, que promovem bem-estar e ajudam no sono é de grande importância. Alguns desses alimentos são raízes, folhas, amêndoas, bananas, cerejas, aveia, alimentos proteicos como leite e derivados, peixe e grão de bico.
- Torne as refeições divertidas cozinhando em família: para que as crianças se sintam estimuladas a se alimentar corretamente, o hábito alimentar deve se tornar regular e divertido.
Outras informações importantes
- Manter as principais refeições do dia em hora fixa para reduzir a ansiedade infantil
- Dar liberdade para a criança escolher seus alimentos (saudáveis)
- Criar jogos, imitar programas ou fazer refeições para personagens que as crianças gostem
- Deixar que os pequenos façam receitas simples como vitaminas, no bake bars, cookies, bolinhos, panquecas, promovendo diversão, bagunça rápida e fácil
- Crianças maiores de 10 anos podem ajudar nas refeições sérias organizando e medindo os ingredientes, colocando-os no liquidificador, ajudando nas ideias de café de manhã ou lanches e no planejamento das refeições da semana
- Deixe as crianças liderarem um pouco escolhendo as receitas e ingredientes, isso dá sentido à refeição e faz com que eles se alimentem melhor
Fonte(s): NSC
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