Uma mulher trans afirmou ter sofrido duas tentativas de homicídio em menos de 24 horas em Araquari, no Norte catarinense. A Polícia Civil investiga o caso. A vítima chegou a se ferir ao fugir dos agressores.
De acordo com o boletim de ocorrência, homens atiraram contra a mulher e um grupo a ameaçou e insultou com palavras de cunho sexual. Os crimes ocorreram no Centro da cidade em 23 e 24 de abril.
O delegado responsável pelo caso, Eduardo de Mendonça, afirmou que "não havia nenhum tipo de câmera que tenha captado algo". A polícia investiga dois suspeitos.
Crimes
A vítima é Scarlett Oliveira. Ela disse que a primeira tentativa ocorreu quando ela estava indo visitar uma amiga. Segundo o relato, dois homens que estavam passando de carro começaram a atirar contra ela, gritando palavras de ódio e mandando que ela corresse.
A mulher estava de bicicleta e desceu do veículo, correu em direção a um cemitério e se escondeu por cerca de 40 minutos em uma vala. Durante a fuga, sofreu cortes nas pernas e nas mãos. Depois, ela foi à Polícia Militar e os agentes recuperaram a bicicleta e fizeram o mapeamento da área do crime.
No mesmo dia, segundo a vítima, agressores conseguiram o número de telefone dela e passaram a mandar, através de um aplicativo de mensagens, ameaças e recados com teor sexual.
A mulher afirmou que, no segundo ataque, estava recolhendo as cápsulas das balas atiradas contra ela quando foi abordada por um grupo de quatro homens. Eles correram atrás dela e a insultaram com palavras de ódio.
No boletim de ocorrência, ela afirmou que três deles são jovens e um tem aproximadamente 35 anos. Novamente a vítima fugiu, escondeu-se e, depois, fez o boletim de ocorrência.
O delegado disse que as conversas do aplicativo de mensagens serão analisadas e a vítima será chamada para depor.
Abalo
Scarlett é uma mulher trans, drag queen e aluna do Instituto Federal Catarinense (IFC) de Araquari. Ela contou que não sabe como os agressores conseguiram o número de telefone dela, mas fizeram contato pouco depois do primeiro ataque, fingindo ser outra pessoa. Após ela questionar quem estava falando, as mensagens se tornaram agressivas.
"Estou sendo constantemente ameaçada psicologicamente. Não consigo sair pra rua não consigo fazer meus estudos presenciais", lamentou a vítima.
Ela disse que está evitando sair desde que sofreu os ataques e que há descaso na investigação, alegando ter encaminhado à polícia provas e o número que está fazendo as ameaças. Ela levou o caso também ao Ministério Público de Santa Catarina, que registrou a denúncia na Promotoria de Justiça de Araquari.
O delegado disse na sexta-feira (6) que a polícia vai "tentar fazer o máximo para desvendar o caso".
IFC se solidariza
O IFC, onde a vítima estuda, emitiu uma nota de solidariedade na quinta (5), dizendo que "essas tentativas nos mostram as violências diárias que a população LGBTQIA+ sofre, e que em muitos casos, infelizmente, não chegam aos nossos ouvidos e olhos".
O instituto reforçou que "neste momento de dor nos solidarizamos com ela, dando todo o apoio possível e cobramos, por meio desta, que os agressores sejam identificados e levados à justiça, para que respondam da maneira devida, com todos os rigores previstos em lei".
A nota concluiu que "LGBTIfobia é crime imprescritível e inafiançável e não podemos aceitar que o poder público não dê a devida importância ao caso e, também, que não mude o ocorrido – como acontece em casos de racismo – para um crime de menor potencial".
País que mais mata transexuais
O Brasil mantém a posição de país que mais mata transexuais no mundo, à frente de México e Estados Unidos, segundo dados de novembro de 2021 da ONG Transgender Europe (TGEU).
O relatório da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra) aponta que, em 2021, 140 pessoas trans foram assassinadas no país, sendo 135 travestis e mulheres transexuais, e 5 homens trans e pessoas transmasculinas.
Como não há um dado oficial sobre o tema, a pesquisa é feita a partir de informações encontradas em órgãos públicos, organizações não-governamentais, reportagens e relatos de pessoas próximas das vítimas.
Fonte(s): G1 Santa Catarina
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