O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e seus colaboradores começaram nesta segunda-feira (7) a moldar o futuro do que será seu terceiro mandato, sob os olhos atentos do mercado e da comunidade internacional.
Lula, de 77 anos, voltou ao trabalho depois de uma semana de descanso na Bahia ao lado da futura primeira-dama, Rosângela da Silva, após uma intensa campanha eleitoral.
Nesta segunda, Lula se reuniu com sua equipe em São Paulo e na quarta-feira estará em Brasília para acompanhar a transição de perto, informou à AFP um assessor da equipe, assegurando que a agenda de encontros na capital federal ainda não está fechada.
Sob a coordenação do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, a equipe de transição começará a receber informações sobre o Estado, entregues pelo governo de Jair Bolsonaro.
O governo eleito tem um desafio imediato: garantir recursos para cumprir promessas de campanha, como a manutenção do Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família, em R$ 600.
“Não podemos entrar em 2023 sem o auxílio emergencial, sem aumento real do salário mínimo, são coisas que foram contratadas com o povo brasileiro”, disse Gleisi Hoffmann, presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula.
Sem recursos suficientes no orçamento, aliados de Lula negociam com o Congresso a aprovação de um projeto de emenda constitucional que permita aumentar os gastos, contornando a regra do “teto de gastos”.
O projeto deve ser aprovado antes de 15 de dezembro.
Somente para o Auxílio Brasil – com um adicional prometido de 150 reais para famílias com crianças de até 6 anos – seriam necessários 70 bilhões de reais.
Lula se prepara para um embate com o Congresso.
O Partido Liberal de Bolsonaro terá em 2023 a maior bancada em ambas as câmaras, uma oposição mais dura do que a protagonizada pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), durante os dois primeiros mandatos de Lula.
Porém, líderes do “centrão”, partidos que costumam aliar-se ao governo, rapidamente mostraram disposição para o diálogo.
O petista, presidente entre 2003 e 2010, derrotou no segundo turno Bolsonaro, em uma campanha focada na promessa de retorno à prosperidade, sem muitos detalhes de como seria o governo.
Agora, enfrentará “o desafio de toda esquerda na América Latina nos últimos anos”, que chegou recentemente ao poder, disse o cientista político Leandro Consentino.
Ou seja: “como compatibilizar a responsabilidade fiscal com uma pauta social bastante pré-anunciada, num contexto de pós-pandemia” de inflação e possível recessão mundial, acrescentou este professor do Instituo Insper de São Paulo.
O mercado em suspense
A realidade econômica do Brasil está longe da bonança dos anos 2000, quando Lula conseguiu financiar suas políticas sociais surfando no ‘boom’ das matérias-primas.
Prometeu conciliar responsabilidade fiscal, social e sustentável, mas mantém o mercado em suspense sobre a definição de quem será seu ministro da Fazenda, incerteza que se estende a todas as pastas.
Ao contrário de Bolsonaro, que criou um “superministério” da Economia, Lula prevê desdobrar a pasta em três: Fazenda, Planejamento e Indústria e Comércio.
Fernando Haddad, ex-ministro da Educação, e Aloizio Mercadante, coordenador de programa do governo de Lula, podem ser encarregados na área econômica, especula a imprensa brasileira.
COP27, pré-estreia internacional
O ex-metalúrgico prometeu combater o desmatamento na Amazônia, que disparou no governo de Bolsonaro, e dar maior protagonismo à proteção ambiental, caminho para reconstruir o prestígio do Brasil no exterior, segundo analistas.
Antes de tomar posse, terá sua “pré-estreia” internacional na COP27 no Egito (até 18 de novembro), para onde viajará convidado pelo presidente Abdel Fattah al-Sissi.
“A questão climática agora é uma prioridade estratégica do mais alto nível de governo”, disse em entrevista à Folha de S. Paulo a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, que acompanhará Lula no Egito. Silva é apontada como possível responsável pela pasta mais uma vez.
A proteção da Amazônia será fundamental para recuperar a credibilidade do país frente à comunidade internacional e destravar acordos comerciais como o da União Europeia e o Mercosul, afirmou André César, analista da consultora Hold.
Fonte(s): ND+
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